Sucesso da Broadway, “Jersey Boys” surgiu a partir da biografia escrita por Marshall Brickman e Rick Elice sobre Frankie Valli e o grupo musical Four Seasons, sucesso absoluto com canções como “Sherry” e “Walk Like a Man”. Desde sempre apaixonado por música, Clint Eastwood resolveu levar a trajetória dos cantores para as telonas. De pequenos infratores da New Jersey a grandes astros, o longa atravessa décadas na vida dos personagens mostrando suas transformações.
Brickman e Elice também foram os responsáveis pelo roteiro da obra, na tentativa de preservar a originalidade da história. A trama inicia em 1951, quando Frankie é um jovem aprendiz de barbeiro dotado de uma voz peculiar. A relação com Tommy DeVito vai transformá-lo na atração principal da banda. Com Nicki Massi e Bob Gaudio, eles passam de aprendizes de mafiosos a celebridades.
A Eastwood coube uma árdua tarefa de trabalhar com um elenco desconhecido para narrar os dramas familiares, a ascensão ao estrelato e a paixão pela música desses quatro jovens. Mesmo elaborando um filme elegante, com um trabalho detalhista de design de produção e figurino, Eastwood não conseguiu esconder a trama longa e cheia de pontas. São décadas demais na vida do grupo em um filme de 134 minutos, que não esconde o descuido do roteiro ao lidar com emoções demais, tantas pitadas de humor e extensos números musicais. Recortes seriam bem-vindos para enxugar os conflitos.
Vincent Piazza interpreta um Tommy imprevisível, um garotão cheio de raiva, mas apaixonado pela música. Sua relação de liderança na banda é destruída aos poucos e o ator acompanha muito bem esse desenvolvimento. John Lloyd Young fica com a parte mais difícil, principalmente tendo que convencer, logo no início da projeção, que é um adolescente. Ainda assim, a maturidade do personagem no decorrer dos anos também surge com decência.
Destaque para Erich Bergen na pele do compositor Bob Gaudio, responsável pelos sucessos da banda. Bergen está extremamente seguro no personagem e tem o carisma que falta nos seus companheiros de cena. A participação de Christopher Walken, como um chefão mafioso, parece imprópria. Mesmo que tenha uma participação mais efetiva no último ato da película, a missão a que lhe é atribuída parece pouco importar.
Na direção, Eastwood parece não esconder o cansaço após tantos trabalhos significativos em sua vasta carreira. Ele tem boas ideias, como quebrar a quarta parede ao atribuir a narração a cada um dos integrantes da banda, e não decepciona nos números musicais (especialmente na arrepiante performance de “Can’t Take My Eyes Off You”), mas faltou transformar este em um filme memorável. Não que “Jersey Boys” seja ruim, mas merecia um trabalho mais delicado para transformá-lo em um excelente musical, gênero que está (novamente) entrando em abstinência na indústria.
A parte mais bonita disso foi ver o público aplaudir a homenagem ao quarteto no Rock and Roll Hall of Fame, que quase faz ignorar a maquiagem desagradável aplicada nos atores nesta sequência. No fim das contas, é delicioso poder conhecer um pouco mais sobre a trajetória desses astros, cuja herança até hoje está muito além do vinil e na memória de gerações.
Avaliação: 7/10
Texto originalmente publicado no Cinema com Rapadura.