Crítica | Pixels (2015), de Chris Columbus

Avaliação: Regular ★★☆☆☆

Boa parte dos cinéfilos se sente representada quando a indústria cinematográfica apela para a memória afetiva, seja por meio dos super-heróis dos quadrinhos, das refilmagens de clássicos juvenis ou, como é o caso de “Pixels”, da cultura dos videogames. Além dessa parcela de público, novos adeptos são formados, conquistando dois nichos ao mesmo tempo e, consequentemente, rendendo uma bilheteria significativa que gera sequências, semelhantes e por aí vai.

Em “Pixels”, inspirado em um curta-metragem francês, personagens de jogos oitentistas são enviados para destruir a Terra. Enquanto a Casa Branca procura soluções para deter os vilões com armas e equipamentos megalomaníacos, criados do dia para a noite, o protagonista Sam Brenner, interpretado por Adam Sandler, reúne seus colegas nerds para combater os inimigos, que agora se tornaram reais. Os marmanjos irão reviver os bons tempos de criança para passar de fase e evitar o fim do mundo.

O longa funciona ao transportar esse universo retrô para as telonas, com efeitos visuais competentes e um 3D divertido, utilizando as estratégias dos famosos jogos dentro da sua própria narrativa. Todo bom jogador de videogame certamente já quis “entrar” nesse mundo virtual. Chega a ser eletrizante a sequência de Pac-Man pelas ruas de Nova York ou mesmo quando Donkey Kong aparece com seus barris para dificultar a vida dos humanos. Outros games também participam, como Galaga, Tetris, Space Invaders e o carismático Q*bert.

Mundo nerd

Ao fazer questão de explorar o mundo nerd, “Pixels” se atrapalha com seu próprio protagonista. Adam Sandler, que também é produtor, em momento algum convence como um campeão de videogame (o que dizer de Kevin James como presidente da república?). A empatia praticamente nula de Sandler faz com que ele repita os mesmos papéis de sempre, sem trazer nenhuma característica a mais que faça o público torcer por ele ou pelo romance improvável com a mocinha vivida por Michelle Monaghan.

Resta a Josh Gad, que interpreta o garoto prodígio Ludlow, seguir à risca os estereótipos nerds e, o mais importante, fazer com que isso ainda funcione em tela. Acaba funcionando. O timing cômico de Gad, mesmo exagerado, é o que consegue divertir aqui e ali durante a projeção. Nem mesmo Peter Dinklage parece à vontade em cena, fazendo um péssimo uso da antipatia quase vilanesca para se tornar um herói. As boas piadas existem, mas são raras. Elas surgem do elenco secundário ou mesmo das situações esdrúxulas, como em uma reunião na Casa Branca que especula que o ataque é comandado pelo Irã ou pelo Google.

As soluções do diretor Chris Columbus tentam maquiar a irregularidade do roteiro. Sua experiência com filmes para a garotada, como “Esqueceram de Mim”, “Uma Babá Quase Perfeita” e, mais recentemente, os dois primeiros longas da franquia “Harry Potter”, dá a “Pixels” o tom família que precisa e evita uma catástrofe maior de um filme visivelmente limitado. A parte boa da trama é poder brincar de identificar referências e easter eggs durante a projeção, além de perceber que a melhor lição desse segmento de filmes-nostalgia é que antigamente era tudo mais divertido.

Texto originalmente publicado no Jornal Diário do Nordeste.

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