Review | Trapaça (2013), de David O. Russell

Trapaça, de David O Russell

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pelo Oscar, já deixou claro o fascínio que tem pelo cineasta David O. Russell, que em 2010 ganhou destaque com “O Vencedor”. Ano passado, foi a vez de “O Lado Bom da Vida” chamar atenção dos especialistas e agora “Trapaça” é um dos favoritos ao Oscar 2014. Longe de ser um diretor exemplar, Russell realiza o pior filme desde a sua ascensão, praticamente formatado para vencer prêmios, mas sem o encanto que as demais produções indicadas esse ano trazem.

Na trama, Irving Rosenfeld (Christian Bale) e Sydney Prosser (Amy Adams) são especialistas em falcatruas. Incrivelmente inteligentes, eles ficam ricos trapaceando suas vítimas e tirando o dinheiro que elas têm. Quando eles são forçados por Richie DiMaso (Bradley Cooper) a colaborar com o FBI, os imprevisíveis jogos se tornam perigosos, mexendo até com o prefeito da cidade, Carmine Polito (Jeremy Renner), e a esposa traída de Irving, Rosalyn Rosenfeld (Jennifer Lawrence). O que passa a valer é quem tem mais estratégias para sair ileso das trapaças.

O roteiro, baseado em fatos reais, tenta criar um emaranhado de relações e reviravoltas para demonstrar sua inteligência, mas consegue apenas beirar a demência. Se apropriando de referências de filmes de máfia, estilizado principalmente por Martin Scorsese, Russell não sabe muito bem o que fazer com a história que quer contar, indefinição que reflete no restante da equipe técnica. Os maneirismos com que tenta criar um clima noir pouco convencem, deixando o elenco tentar se virar para chamar atenção. Pena que, mesmo contando com atores renomados, o que temos em tela são estereótipos mal desenvolvidos de pessoas neuróticas em busca da glória, seja pessoal ou financeira.

Ainda que a química entre Christian Bale e Amy Adams salve o mínimo de interesse que se tem pela trama, não fosse por Jennifer Lawrence, a mais psicótica da história, o filme beiraria o desastre. É ela que sabe o que fazer com os tons acima escritos pelo roteiro, bem como assumir o humor e o ridículo e se sair bem. São delas as melhores cenas da projeção, quando dubla uma canção ou discute com a personagem de Adams no banheiro.

Não é o melhor filme da carreira de Lawrence, que esteve monstruosa em “Inverno da Alma” ou em “O Lado Bom da Vida” (e até mesmo em sua curta participação em “Loucamente Apaixonados”) e não justifica um segundo Oscar consecutivo, mas é ela que mantém a dinâmica do filme. Ainda que Bradley Cooper interprete um dos personagens mais interessantes, seu potencial dramático é desperdiçado em troca de um agente do FBI canastrão. O mesmo se aplica a Jeremy Renner.

O elenco, que recebeu quatro das dez indicações ao Oscar, sofre também com a megalomania dos parceiros de Russell, sempre preocupados com os penteados e figurinos exagerados, que distraem mais do que a própria história. A direção de arte, certamente o setor menos falho, reconstrói a época como era de se esperar. A ausência da trilha sonora em momentos cruciais prejudica o ritmo do filme, que tenta se salvar na edição, sem conseguir esconder seu lado enfadonho.

Como diretor, Russell perde tempo utilizando movimentações de câmera que pouco agregam à narrativa, além de mostrar-se preguiçoso em diversos momentos onde ele parece estar bastante satisfeito em criar apenas planos e contraplanos básicos. A impressão que dá é que ele está perdido ao tentar fazer um filme memorável e para a Academia ver, quando na realidade sua comunicação com o espectador, seja especializado ou não, é restrita.

Com dez indicações ao Oscar 2014, “Trapaça” disputa o favoritismo da categoria principal com “12 Anos de Escravidão” e “Gravidade”, quando na realidade tem pouco ou nenhum motivo para figurar na premiação, a não ser o lobby sempre certeiro que eleva a produção a um status sem merecimento.

Avaliação: 5/10

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