Crítica | Salsipuedes (2016), de Ricardo Aguilar Navarro e Manolito Rodriguez

SALSIPUEDES (1) (1)Avaliação: ★★☆☆☆

O cinema do Panamá ainda não é um grande destaque na cinematografia mundial, ainda que haja um crescimento recente de produções que buscam discutir a realidade e a cultura do lugar. “Salsipuedes”, de Ricardo Aguilar Navarro e Manolito Rodriguez, explora temáticas como a imigração, a incompetência policial e a violência nas ruas, tão recorrentes em outros cinemas que aqui se tornam ultrapassados por não apresentarem nada de realmente novo.

“Salsipuedes” discute a ruptura da família Pimienta. O filho Andrés foi enviado para estudar nos Estados Unidos, mas precisa retornar quando seu avô morre. O pai Bobby é um famoso lutador de boxe com problemas de conduta. A mãe Eloísa parece viver de amargura provocada pela ausência de uma base familiar. Quando o pai foge da prisão, o filho é seduzido a permanecer no Panamá para encontrá-lo e redescobrir seu lugar de origem.

Com um orçamento moderadamente generoso para uma produção “pequena”, os diretores pouco experientes adotam um estilo novelesco que aborta o que há de melhor na linguagem cinematográfica, prejudicando o andamento dos conflitos e causando certo desinteresse em saber o final da história. O exercício de montagem tenta revelar o passado de Andrés, mas não deixa de ser um alternativa careta para a obra, sem falar da falta de empatia dos personagens infantis desse segmento.

O protagonista Elmis Castillo até tenta segurar a trama, mas o papel unidimensional o prejudica e nenhum outro personagem é realmente relevante a ponto de se interessar por eles. Correm por fora um romance que não consegue engatar, o medo da violência que se transforma em violência e a incapacidade emocional dos personagens de tomar decisões que fujam do óbvio. Ao final da projeção, não resta muita coisa para refletir, o que é uma pena, já que conhecer a realidade (e as propostas cinematográficas) de outras nações, e até mesmo denunciá-las, poderia ser um importante papel do cinema panamenho. Perde-se uma grande oportunidade de se comunicar com o restante do mundo.

Ano passado, o Cine Ceará explodiu ao exibir em competição obras como “O Clube”, de Pablo Larraín; “Cavalo Dinheiro”, de Pedro Costa; “Jauja”, de Lisandro Alonso, e até mesmo o estranhamente interessante “Crumbs”, de Miguel Llansó, demonstrando os rigorosos critérios da curadoria dos longas-metragens ibero-americanos. Dito isso, é difícil engolir a presença de “Salsipuedes” na competição desse ano, que não faz jus à seleção anterior, mas pelo menos deixa espaço para os curtas-metragens brasileiros brilharem no festival.

Filme visto no 26º Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema.
Post originalmente publicado no site da Aceccine.

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