Crítica | Jogos Vorazes – A Esperança: Parte 1 (2014), de Francis Lawrence

Jogos-Vorazes-A-Esperança-Parte-I

Avaliação: Bom

Existe uma dicotomia estranha no que foi visto da franquia “Jogos Vorazes” até agora nos cinemas. Ainda que se estabeleça como uma das melhores adaptações direcionadas ao público young adult, a impressão é que os filmes não conseguem avançar com a liberdade que poderia. Talvez pelo compromisso com a bilheteria, que se justifica mais uma vez com a divisão de “A Esperança” em dois, ou porque é sempre difícil transpor para as telas a profundidade filosófica de um mundo distópico (como o recente “O Doador de Memórias”) sem cair no didatismo superficial.

Deixando de lado os jogos para abordar as consequências deles para os Distritos, “A Esperança – Parte 1” abre mão da aventura para focar no drama. É compreensível o status que Katniss (Jennifer Lawrence) enfrenta após os acontecimentos do longa anterior, principalmente em relação a Peeta (Josh Hutcherson) e ao destino que a Capital planeja para quem resistiu obedecer aos seus princípios. Entretanto, a trama morna pouco impressiona, sendo poucas sequências realmente efetivas para o desfecho da franquia.

Há uma grande preocupação em inserir a protagonista em um jogo duvidoso, repetidas vezes, que criam desconfiança em quem ela pode confiar. A franquia já está madura e pode ir direto ao ponto. Dessa forma, o lado sentimentalóide de Katniss troca a coragem do primeiro filme, quando ela se oferece como tributo no lugar da irmã, pelo desejo que as coisas acabem logo, sem tanta coragem assim. Ela aceita a proposta do Distrito 13 de ser O Tordo, símbolo da resistência e da luta, quando na verdade o que ela mais quer é recuperar Peeta, agora sob a tutela da Capital.

Jennifer Lawrence é uma atriz exemplar, seja protagonizando “O Lado Bom da Vida” ou fazendo participações menores, como em “Loucamente Apaixonados”. Mas sua carga dramática às vezes parece acima do tom em “Jogos Vorazes”. Tanto que nos raros diálogos onde o alívio cômico podia arrasar em tela, a sobriedade da personagem prejudica. Entre as novidades do elenco, Julianne Moore interpreta Alma Coin, presidente do Distrito 13. A performance da estrela é opaca, deixando sua vulnerabilidade aparecer em apenas uma cena preciosa em que conversa com Katniss.

O know how de Francis Lawrence, por sua vez, gera sequências absolutamente efetivas, seja visualmente ou apoiando-se na montagem criativa da dupla Alan Edward Bell e Mark Yoshikawa. Em determinado momento, vemos Katniss assistir, absorta, a operação de busca a Peeta, enquanto Finnick (Sam Claffin) desmascara o Presidente Snow (Donald Sutherland) na tela ao lado. James Newton Howard continua fazendo um bom trabalho de composição da trilha sonora, potencializando os arcos dramáticos da trama. Os efeitos especiais não são de encher os olhos, mas não deixam a desejar. A construção da atmosfera de destruição dos Distritos é detalhista, quase dando para sentir o cheiro dos corpos carbonizados.

A necessidade mercadológica de dividir de “A Esperança” em dois filmes possibilitou o pouco aproveitamento de tempo para resolver, com mais praticidade, os problemas da franquia, principalmente com a longa distância de lançamento da segunda parte, marcada para novembro de 2015. Assim, “A Esperança – Parte 1” restringe-se a um mediano filme dramático que pesa a mão em determinados aspectos, talvez guardando sua melhor parte para o final. Pena que teremos que esperar muito…

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