Em novo filme, Pierre Schoeller reflete sobre o nascimento das revoluções

"A Revolução em Paris" levou sete anos para sua realização, passando pelas fases de pesquisa, roteiro, produção e filmagem
“A Revolução em Paris” levou sete anos para sua realização, passando pelas fases de pesquisa, roteiro, produção e filmagem

Filmado em cenários históricos e autênticos de Paris e arredores, o longa-metragem “A Revolução em Paris” faz uma imersão nos três primeiros anos da Revolução Francesa, de 1789 a 1793, desde a tomada da Bastilha até a decapitação do Rei da França Louis XVI, trazendo questionamentos: “Como se chega em três anos à execução de uma figura que foi, durante vários séculos, tão sagrada e intocável? Como emerge a liberdade? Como nasce a consciência política? E uma resposta: a força da esperança do povo movido pelo lema “A liberdade ou a morte”.

Especialista em cinema político, o diretor e roteirista Pierre Schoeller coloca no centro da trama histórias íntimas de mulheres e homens da periferia parisiense, transformados pela História em heróis anônimos. Com destaque para as mulheres, protagonistas dos momentos mais importantes desse período, o filme cruza seus destinos com os de figuras históricas da revolução francesa: Robespierre, Danton, Saint-Just ou Marat, filmados na jovem Assembleia Nacional onde nasceram os textos mais importantes e sempre atuais sobre a liberdade e os direitos humanos.

“A Revolução Francesa está na origem da República e dos direitos constitucionais. Embora 1789 pareça muito distante, liberdade, igualdade e fraternidade não são palavras vazias. Ecoam até hoje nas consciências. Vivemos em um mundo em crise de valores, em que esses direitos são seguidamente violados e isso reflete nas pessoas, no conjunto da sociedade. E tudo isso, a desigualdade, a exclusão, a violência social, possibilita uma gama infinita de histórias”, afirma Pierre Schœller.

Com estreia nacional em 28 de novembro, “A Revolução em Paris” teve exibição exclusiva no país, durante a décima edição do Festival Varilux de Cinema Francês e contou com a presença do diretor Pierre Schœller – sendo o filme mais assistido não apenas desta edição como também dos dez anos de evento: 20.751 espectadores. Apresentado também em seleção oficial na Mostra di Venezia, “A Revolução em Paris” foi um dos filmes franceses recentes de maior orçamento de produção, com cerca de 17 milhões de euros, o que permitiu reconstituir cenas históricas em cenários autênticos nas ruas de Paris.

Assista ao trailer: 

Durante os primórdios da revolução, o povo parisiense começa a imaginar outra existência. Uma maneira única de inventar uma cidadania, valores tão fortes quanto a igualdade, a soberania, a insubordinação que séculos e séculos de poder os haviam recusado e, a partir de então, uma nação inteira constrói uma nova sociedade. Para construir um afresco humano o longa-metragem vai além do horizonte político e narra uma revolução à altura dos homens, dos debates ideológicos. E, ao colocar as pessoas dos subúrbios – especialmente as mulheres – no centro dos acontecimentos, com discussões políticas e sociais, a trama retribui à Revolução Francesa seu rosto popular e contemporâneo.

Com intuito de oferecer grande destaque aos personagens do povo, liderados pela jovem Françoise, interpretada pela atriz Adèle Haenel, o longa mostra seus personagens em torno da oficina do fabricante de vidro, no Faubourg Saint-Antoine. Outro cenário recorrente se passa na Assembleia Nacional, local de discursos, e que reabilitou o pensamento político da época e estabeleceu pontes entre o povo e a Assembleia, onde a Revolução nasceu, há 230 anos, data comemorada em 2019.

A trama destaca a onipresença das mulheres, que se fazem ouvir no coração da muito jovem Assembleia Nacional de Versalhes, em todas as datas importantes, desde o despertar da revolução. Com personagens de coragem natural e inalienável, a história coloca o fio da história nas mãos do mais alto escalão de atrizes francesas da atualidade – Adèle Haenel (Françoise) Céline Sallete (Rainha Audu), Julia Artamonov (Pauline Léon), Noémie Lvovsky (Solange), Taïra Borée (La Vieille Gabrielle) e Emma Stive (a jovem Clémence).

A Marcha de Mulheres em Versalhes, realizada em outubro de 1789, marca o primeiro grande evento feminino aos olhos de todos – deputados, nobreza e burguesia de Paris. O feito foi a irrupção de mulheres na cena política, que provocou também um evento impensável para a época: o rei e a rainha deixariam Versalhes para voltar à Paris. É um ponto de grande virada na revolução porque, pela primeira vez, mulheres jardineiras, lavadeiras, vendedoras e artesãs, promoviam a erupção da energia popular no coração do poder francês. “Eu realmente queria filmar o surgimento de uma consciência política, uma liberdade nascente, intoxicante e envolvente. Desde o início do projeto, sempre desejei que a coragem, a diversidade de sensibilidades, a esperança e o entusiasmo dessas mulheres ressoassem no filme”, ressalta o diretor.

No núcleo masculino, destaque para o ator Laurent Lafitte, que dá vida ao o rei Luís XVI; Olivier Gourmet, que interpreta o personagem Tio, que é artesão e dono da oficina de vidros; Gaspard Ulliel, no papel do jovem Basile. Louis Garrel vive o papel do jovem idealista Robespierre, que gradualmente constrói sua figura inflexível. O ator Niels Schneider, por meio de uma aliança muito especial de juventude, ousadia política e encanto, interpreta Saint-Just. Pierre-François Garel deu amplitude e densidade a um personagem menos conhecido, mas muito importante em sua época, o advogado Barnave, um dos 89 jovens oradores mais brilhantes.

A Assembleia Nacional também esteve no centro do longa como um dos cenários mais importantes. O Salão de Manège, que abrigava o órgão e suas figuras, foi palco de todas as mudanças vividas pelo povo que se emancipava de seu rei. Dia após dia, a cidade bateria no ritmo do que era dito por lá, ou se contradizia. Através dos discursos de Robespierre, Marat, Barnave, Saint-Just e representantes do povo, o público tem a oportunidade acompanhar intervenções e, assim, entender as questões que agitavam a população da época.

Na primavera de 1789, os reformadores queriam salvar o reino e, para isso, foi necessário reformar o imposto, mas, ao fazê-lo, deveriam tocar a soberania e redefinir a cidadania, a igualdade, a unidade de poder. E, ao avançar rapidamente, um amplo consenso nacional emerge para dar uma constituição ao país. No ápice da revolução e para salvar o prédio da Assembleia, os deputados preservam a inviolabilidade do rei contra o sentimento popular. É o início da queda do rei e sua corte, bem como o nascimento da República e a necessidade política de um julgamento do traidor Luís XVI.

Com informações da assessoria de imprensa.

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