Crítica | Mulher-Maravilha (2017), de Patty Jenkins

Avaliação: 3/5

De forma geral, o cinema é predominado por homens. A presença feminina sido assunto de debate nos últimos anos, servindo de pesquisa para instituições que defendem a redução da desigualdade de gênero.

Recentemente, cineastas e atrizes falaram sobre o assunto no Festival de Cannes, que teve Sofia Coppola consagrada melhor diretora do festival, reconhecendo que os números estão mudando vagarosamente, mas que ainda há muito a fazer para conquistar respeito.

O lançamento de “Mulher-Maravilha” vem ancorado nesse debate do espaço da mulher na arte. Para além da força lógica que a personagem carrega, talvez o mais importante na produção seja a direção da cineasta Patty Jenkins. Assumindo seu primeiro blockbuster, a diretora não decepciona com o olhar apurado para filmes de ação.

Mesmo que ela trabalhe em cima de um roteiro criado por homens e responda a um estúdio comandado por homens, é inegável que quis fazer deste um filme sobre mulheres. Ao contrário de outros longas de heróis feitos sob medida para garotos, Jenkins abarca igualmente públicos de todos os gêneros em “Mulher-Maravilha”, generosidade pouco percebida em Hollywood.

Naturalmente, a obra enaltece a figura da mulher, colocando em foco uma heroína vivendo no mundo dos homens. Sua força vai além dos poderes místicos, mitológicos ou fantasiosos, derivando também de sua representatividade como ser humano ao se preocupar com a guerra, velada ou não, que acontece todo dia. Por ter sido criada isolada de tudo isso, é uma realidade nova para Diana e sua incompreensão de como as coisas são do lado de fora trazem certa pureza ao seu olhar.

O roteiro não abre mão do bom humor, que sempre funciona pela competência do ator Chris Pine. Ele serve de escada para que a atriz e modelo Gal Gadot também tenha seus momentos de diversão e traga leveza ao filme, ainda que a sua falta de carisma não consiga ser maquiada no decorrer da projeção.

Como filme, “Mulher-Maravilha” talvez seja o mais interessante da DC Comics/Warner, que ainda enfrenta uma batalha interminável contra a qualidade da Marvel. Depois dos fracassos e horripilantes “Batman vs Superman: A Origem da Justiça” e “Esquadrão Suicida”, a responsabilidade era de tentar entrar na linha. E eles quase conseguem. Digo isso porque, mesmo que “Mulher-Maravilha” seja acima da média dos últimos filmes do selo,
ainda é afetado com o despreparo narrativo da DC no cinema.

A começar pela duração, quase 2h30 de projeção, que poderia muito bem ser 40 minutos menor. A obrigação de criar um épico faz com que “Mulher-Maravilha” seja inconsistente demais e deslize tanto como filme de guerra quanto como filme de espionagem. Com muito tempo em tela, os erros não se escondem. O uso da computação gráfica, especialmente no terceiro ato do filme, chega a ser constrangedor.

Também há a insistência nos vícios visuais, como o exagero da câmera lenta e da trilha sonora, que não dão trégua em nenhum momento do filme. Parece que é mais interessante mostrar como o cabelo da protagonista se move lentamente do que mostrar a ação ou o drama em si. Isso resulta em uma perda de ritmo que não sustenta nenhuma batalha nua e crua, que desperte no público a sensação de que lutar contra o inimigo é correr perigo.

Como qualquer blockbuster, “Mulher-Maravilha” se permite seguir o estilo de produção nos padrões previsíveis. Isso se torna um problema quando não desperta o público para novas sensações, sejam estéticas e visuais ou de provocação crítica. O arco feminista está ali e é importantíssimo, mas ele é limitado. Teria mais espaço para investir na representatividade da mulher.

De toda forma, a aposta em um filme de herói estrelado por uma mulher é bem-vindo, quebrando a maldição de fracassos como “Elektra” (2005) e “Mulher Gato” (2004). E cabe a Jenkins o agradecimento por tentar fazer, dentro das restrições comerciais de seus chefes, um filme que vai na contramão dos heróis brutamontes que discutem por besteira enquanto as mulheres são coadjuvantes ou vilões. Jenkins serve como exemplo de que  ilme de ação não é apenas para homens e nem pode ser feito apenas por eles.

Publicado originalmente pelo autor no Jornal Diário do Nordeste.

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