Crítica | As Tartarugas Ninja: Fora das Sombras (2016), de Dave Green

tartarugasAvaliação: ★★☆☆☆

É compreensível que personagens clássicos de décadas passadas ganhem releituras no mercado do entretenimento atual. Além da nostalgia dos mais velhos, é possível conquistar o público mais jovem e gerar produtos e obras semelhantes. A volta das Tartarugas Ninja, em 2014, provou que nem todas as ideias resgatadas são boas, mas os quase US$ 500 milhões de bilheteria mundial tornaram inevitável um novo filme. Para surpresa, a sequência “As Tartarugas Ninja: Fora das Sombras” acaba sendo um pouco superior ao seu antecessor, não que isso signifique muita coisa.

A entrada do diretor Dave Green trouxe maior dinâmica no desenvolvimento das cenas de ação, a exemplo da perseguição de carros no primeiro ato da película. A pouca experiência de Green não o acanhou de superar Jonathan Liebesman, que parecia totalmente desconfortável ao dirigir o primeiro longa da nova franquia. Sob supervisão do produtor Michael Bay, que chega a se autorreferenciar em determinado momento da projeção, mostrando que seu ego realmente não tem limites, Green possibilita um andamento menos enfadonho da frágil trama, que muito demora a engatar.

O principal atrativo continua sendo a interação entre os heróis principais, mas o conflito principal que dá título à sequência fica em segundo plano. Ao perder a chance de discutir uma sociedade que castra os que são considerados diferentes e mostrar o drama existencial das Tartarugas, o roteiro escorrega ao dar destaque ao que há de mais desinteressante na história: os vilões. Não bastasse a falta de empatia de Destruidor (Brian Tee), a participação de Krang sequer se justifica. A relação entre eles é previsível, além de ser impossível acreditar que eles sejam realmente perigosos.

Com essa lacuna não preenchida, sobra para Michelangelo, Raphael, Donatello e Leonardo tentar salvar o dia com um pouco de carisma. Megan Fox continua levando a sério demais o papel de jornalista e parceira dos protagonistas e nem mesmo uma suposta atração por Casey Jones (Stephen Amell) é bem alimentada, o que, no caso de um filme tem pouco a oferecer, até poderia balançar a trama. Os efeitos visuais incomodam menos, ainda que não impressionem. O designer de Kragan é risível, aparentando que toda a inspiração dos criadores ficou apenas em Splinter, que continua o personagem esteticamente mais interessante, mas que nesse segundo filme não ganha muito espaço.

Enquanto a máquina de fazer dinheiro de Michael Bay e dos grandes estúdios que não cansam de repetir as mesmas fórmulas e gerar sequências intermináveis derem certo, produtos mal acabados como “As Tartarugas Ninjas: Fora das Sombras” existirão para preencher as salas. Cabe ao público decidir se aceita qualquer coisa que se vende como entretenimento ou exige que pelo menos sua memória afetiva seja respeitada.

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