Crítica | Alien: Covenant (2017), de Ridley Scott

Avaliação: 3/5

Ridley Scott retornou ao universo que o consagrou como cineasta em 2012, quando lançou “Prometheus”, vendido como um prelúdio de “Alien, o Oitavo Passageiro” (1979), um dos filmes mais aclamados do cinema. A experiência não foi das melhores, já que tentou justificar muita coisa até então subentendida na obra original.

Dessa vez, Scott lança “Alien: Covenant”, que se passa dez anos após os fatos de “Prometheus”. Ao adotar o nome da franquia novamente, “Alien”, o cineasta assume uma responsabilidade inevitável, de dialogar com a trama clássica e, ao mesmo tempo, trazer novos elementos para os dias de hoje. Entretanto, assim como “Prometheus” foi uma falha dentro da longeva franquia, que ganhou outras três sequências no decorrer dos anos, este novo filme
não cria nada de especial.

Dessa vez, uma nave de colonização está em direção a um planeta identificado como habitável. No meio do caminho, os tripulantes são atraídos por outro planeta que também aparenta ter as mesmas características. Por questões de logística e curiosidade, decidem fazer uma parada e explorar o local – que, claro, vai revelar ser habitado também por seres sanguinolentos.

O processo de concepção de “Alien: Covenant” é permeado especialmente pelos princípios da criação, ensaiados em “Prometheus”, onde seres humanos, androides e alienígenas questionam suas existências como ocupantes de um universo intergaláctico. A nova trama tenta criar camadas filosócas que nem mesmo o filme original considerou ser relevante para aquele momento. Afinal, em 1979, Scott tinha nas mãos um típico filme de terror, com caráter hitchcockiano que dosa muito bem o suspense psicológico com a violência gráfica.

Além da tecnologia impressionante para a época, o original se mostra bem mais fresco do que qualquer uma de suas sequências e derivados, justamente por se sustentar na disposição dos elementos dramatúrgicos em cena.

Em “Alien: Covenant”, a impressão que fica é que a eterna luta entre humanos e alienígenas se desgastou tanto a ponto de não ter mais para onde ir. Se o próprio criador do filme original teve duas chances de revitalizar a franquia e não conseguiu, o problema se torna patológico e aparentemente irreversível.

Se há algumas décadas Scott compreendia que o melhor suspense é aquele sugerido, aqui ele opta pela violência física incapaz de causar qualquer sensação de perigo. Talvez seja apropriado para o público contemporâneo, acostumado com brigas épicas no cinema, mas para o contexto no qual a franquia foi iniciada, acaba se perdendo.

As sequências de ação são em sua maioria pobres, com uma exceção em especial: a da batalha envolvendo um gancho que prende o inimigo. Os efeitos visuais foram aprimorados, o que já era esperado, mas não saltam aos olhos.

A nova heroína é interpretada por Katherine Waterston que tenta dar profundidade à sua existência, mas não chega perto do que Sigourney Weaver fez ao imortalizar Ripley. Ao mesmo tempo que Waterston não segura o filme sozinha, o elenco secundário é tolo. Temos o personagem que se isola sem motivo aparente apenas para virar vítima dos aliens, além das repetições das rixas entre os tripulantes.

Michael Fassbender interpreta novamente, após “Prometheus”, o androide David, dessa vez jogado no limbo. Sua trama particular tenta surpreender no terceiro ato do longa-metragem, mas suas ações não surpreendem quando o desfecho chega.

Scott um dia foi visionário o suficiente para pensar um mundo futurístico de maneira invejável dentro da ficção científica, e é isso que faz com que filmes como “Alien, o Oitavo Passageiro” tenha durado de forma fresca quase quatro décadas depois.

Por outro lado, a indústria comercial da nostalgia de hoje, que alimenta o público com repetições e realiza filmes como “Alien: Covenant”, abrindo mão do compromisso artístico para se render às bilheterias. Às vezes vira entretenimento bobo; outras, um filler sem necessidade de existir.

Publicado originalmente pelo autor no Jornal Diário do Nordeste.

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